O bate-papo da semana é com Deborah Aquino, mais conhecida como Debs, a blogueria apaixonada por corridas, que recentemente lançou seu livro “Num piscar de olhos”.

Ela conta sobre sua luta contra o câncer de mama e a prática do esporte durante o tratamento. Ela tem mais de 90 mil seguidores no Instagram, interessados em seu ponto de vista positivo sobre a vida e seus desafios. Num piscar de olhos, pois a blogueira compreendeu que toda a vida pode mudar, literalmente, nesta fração de segundos.

 

Treino Online - Como a corrida entrou na sua vida?

Debs - A corrida entrou na minha vida após o término de um namoro. Eu estava muito mal, conheci uma menina que amava correr e ela me levou pra uma prova de 10km. Foi assim que me apaixonei pela corrida.

 

Treino Online -    Provavelmente, você começou com provas curtas para depois migrar para a maratona. Como foi essa decisão e quanto tempo depois de ingressar no esporte?

Debs - Eu nunca gostei de correr distâncias curtas, mas fiquei mais ou menos 1 ano fazendo provas de 10km, pra depois ir para as meias maratonas. A maratona veio somente de pois de 9 anos de corrida e 19 meias nas costas! Quando eu achei que queria algo a mais da corrida. A maratona é uma prova linda, mas muito dura de se preparar. Ir lá e fazer os 42km é a cereja do bolo. Mas treinar pra fazer com qualidade e sem lesões significa abdicar de muitas coisas na vida durante o período de treinamento. Mas é uma opção, né?

 

Treino Online - O que você sente quando corre?

Debs - Hoje, fazendo yoga, tenho certeza que entro em estado meditativo. Não acho que temos que correr para sofrer, não gosto das frases de efeito "No Pain, no Gain". Acredito que a corrida é um hobby, uma escolha. Se for pra sofrer, é melhor não fazer. A corrida me proporciona um estado, que apenas a meditação me traz: a sensação de não pensar em nada, de sentir o corpo meio que flutuando, sabe?

 

Treino Online - Pouco depois da sua primeira maratona foi diagnosticada com câncer de mama. A pergunta é, como você descobriu esse câncer? Foi através de auto exame? Digo isso porque precisamos alertar as mulheres em se tocar.

Debs - Eu já acompanhava uns nódulos que senti num auto-exame em abril de 2013. Mas nos controles os médicos sempre diziam que eles eram benignos, então confiei... Quando fui fazer meu check up de final de ano, em 2013, procurei um outro mastologista, porque desconfiava que alguma coisa não estava certa. E foi ele quem investigou mais a fundo, pediu uma biópsia, e aí tive o diagnóstico.

 

Treino Online - Após o diagnóstico, você pensou em parar de correr? Por quê?

Debs - Nunca, a corrida me salvou de uma depressão pós término de um namoro e me salvou de uma depressão na época do diagnóstico e do tratamento. A única ressalva do meu oncologista foi em relação à imunidade. Ele me dizia que eu não podia deixá-la cair. Então corria bem menos e mais devagar na época do tratamento. Quando comecei a ficar muito cansada, parei e fui pra natação e pra bike.

 

Treino Online - Você acredita que, esportistas, possuem mais chances de se curar por manter um ritmo de vida mais saudável?

Debs - Com certeza. Acho que o corpo dos esportistas tem mais condições de aguentar a carga de quimio e radioterapia que vem em decorrência do tratamento.

 

Treino Online - Você diz que o livro parece ser de superação, mas não é. Você não acredita que curar-se de uma doença que mata tanta gente, uma superação?

Debs - Vou responder a sua pergunta com um exemplo: eu tenho uma amiga, a Daniele Nobille, que era corredora, sofreu um acidente e ficou paraplégica. Desde o acidente, ela nunca se vitimizou, nunca se deixou ficar na cadeira de rodas achando que o mundo tivesse acabado - muito pelo contrário, ela foi atrás de fisioterapia, academia, de viver independente como era antes. Ela mora sozinha, viaja pra cima e pra baixo, é feliz. No dia que fiquei pior, em consequência da quimioterapia, pensei muito nela. Pensava que estava mal, estava com dor, estava careca, mas aquilo tudo era temporário. Em 6/8 meses, eu estaria andando, correndo, cabeluda de novo. Então, eu acho que o meu "sarrafo"pra superação subiu conhecendo pessoas como a Dani. Acho sim, que quem tem uma doença como o câncer é vencedor em passar por ela. Mas superação, eu entendo como alguém que tenha uma limitação permanente e não se deixa abater por isso, entende?

 

Treino Online - Que mensagem você deixar para as pessoas que passam por uma dificuldade?

Debs - Todas as dificuldades na nossa vida vem pra nos ensinar alguma coisa. Eu gosto de encarar esses obstáculos como atalhos, como uma ponte, pra chegar na felicidade. Se você tira a resistência em achar que uma dificuldade pode acabar com o seu dia, com a sua vida, você passa a receber muita coisa boa. A famosa gratidão... É nisso que eu acredito.